quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Restos monumentais de Pax Ivlia I - Friso de ângulo com cabeças de touro.

Restos monumentais de Pax Julia (I)

A arquitectura romana dos edifícios religiosos, públicos e civis, era grandiosa, profusamente decorada com escultura, pintura, mosaico e estuques relevados e coloridos. Eram construções que glorificavam o imperador, as divindades e os grandes feitos de armas, queriam-se magnificentes e eternas.

O domínio de Roma estendia-se pelo mundo conhecido de então, chegando a integrar quase toda a Europa, boa parte da Ásia ocidental e todo o norte de África, distintas e longínquas partes do império interligadas pelo imenso Mediterrâneo.

Aqui, na província baixo alentejana, parte maior da antiga Lusitânia, cuja capital era Mérida, conservam Beja, Mértola, Vidigueira, Santiago do Cacém (Miróbriga), Grândola (Tróia) e Alcácer do Sal núcleos importantes daquele passado histórico, ainda mais valorizado por quanto se sabe ter sido Pax Julia a sede de um convento jurídico que se estendia para lá de Évora até aos limites de Scalabis (Santarém), a outra das três sedes em que se dividiu a Lusitânia.

É, essencialmente, a partir do século XVI, após a descoberta, na herdade da Lobeira, da famosa lápide votiva, dedicada por Pax Julia ao imperador Comodo, que Beja romana começa a sair do anonimato em que se encontrava - os achados ocasionais de grandes mármores trabalhados veiculam assim maior relevância, tendo de ser vistos com outros olhos, pois pertenciam àquela cidade onde se comemorara a paz luso-romana. Essa lápide, ainda hoje, depois de ter, desde o século XVI, figurado em todos os edifícios onde funcionou o município pacense, se encontra exposta no cimo da escadaria principal da actual Câmara Municipal à Praça da República.

Já no século XVIII, Félix Caetano da Silva, bejense, autor da História das Antiguidades de Beja, o padre Pires Nolasco nas suas memórias paroquiais e o bispo D. Frei Manuel do Cenáculo Vilas Boas nos falavam da grandeza, quantidade e antiguidade, das cabeças de touro, capitéis, fustes, frisos, escadarias e outras estruturas ainda subsistentes como sejam as portas de Avis, de Évora e de Mértola (não referindo, qualquer dos autores, a romana de "Santa Catarina» ou de "Vipasca», ali à Rua Dr. Brito Camacho, antiga do Buraco, porque naturalmente já estaria desactivada e destruída há muito tempo, abrindo-se uma outra, a medieval de Aljustrel também desapareci¬da na voragem das demolições levadas a cabo pelo camartelo do progresso durante a segunda metade do século XIX e seguinte)

À custa das demolições oitocentistas, avoluma-se ainda mais a já valiosa colecção arqueológica que Cenáculo organizara 100 anos antes no seu Museu Sesinando Cenáculo Pacense, um dos primeiros do seu género em Portugal, então instalado no antigo Colégio dos Jesuítas.

Infelizmente, as esculturas figurativas e outras peças que hoje deveriam estar em Beja, dada a sua raridade e qualidade de execução, e porque são de cá, encontram-se actualmente expostas no Claustro do Museu de Évora, cidade para onde Cenáculo levou então parte da "sua" colecção.

Agora, passados outros 100 anos, Beja continua a ver constantemente enriquecida a sua história sob domínio romano. Em 1982, descobria-se numa fossa de edificação antiga da Rua dos Infantes, no restaurante "Os Infantes", um grande capitel romano, de estilo compósito/coríntio, possivelmente o maior em volumetria da Península Ibérica, além de estruturas in situ , um fuste liso fragmentado e um outro capitel coríntio de folhas de acanto lisas; e, em 1995, pelo mês de Maio, durante obras de conservação de um muro e beneficiação exterior do quartel da GNR (antigo Colégio dos Jesuítas), encontraram-se mais um fragmento de cabeça de touro, um capitel informe, delineado e inacabado, além de um outro, corintizante também de tipologia rara para a cidade. Em suma, um rol de peças monumentais que passaremos a descrever.

Algumas das cabeças de touro da antiga Pax Julia, referimo-nos às mais monumentais, às duas de maior dimensão que se encontram expostas na galeria exterior do Museu Regional de Beja, entre capitéis compósitos e corintios e cornijas de que vos iremos falar, integram um conjunto de cerca de nove ou dez, dispersas pela muralha da cidade, Igreja de Santa Maria, Ermida de S. Sebastião (depósito de material lítico do Museu), Tanque do Cano e praça de armas do castelo.

Essas duas cabeças têm sido, ao que sabemos, vistas isoladamente, não se relacionando a sua função estrutural e decorativa com um determinado posicionamento no edifício a que pertenceria. Analisando, mesmo que superficialmente, uma das cabeças, constatamos que houve um desbaste lateral, profundo, sem dúvida muito posterior ao período romano, cuja intenção seria permitir com maior facilidade encaixá-la numa parede - sabe-se que as duas cabeças estavam colocadas na abside da demolida Igreja de S. João, orientadas para a antiga Rua do Touro (cf. "Iconografia Pacense” in Diário do Alentejo Setembro/Outubro de 95).

A outra mostra-nos uma cabeça quase sem "retoques" posteriores, provida no cimo de saliência rectangular destinada a suportar alguma coisa, talvez uma cornija ou outro elemento arquitectónico; o seu peito e espádua são fortes e bastante relevados do bloco paralelepipédico em que foram esculpidos, notando-se, à direita, boa parte da espádua de uma outra cabeça e peito há muito desaparecidos.

Segundo esta sumária análise, teríamos um bloco com duas cabeças salientes, de faces contíguas, perpendiculares entre si. No templo chamado de Minerva (século III d.C.), da cidade numida de Theveste (actual Tébessa) na Argélia, raro pela dis¬posição de dois frisos sobrepostos, profusamente decorados, podemos ver a representação de duas cabeças de touro baixo relevadas, uma em cada face do ângulo, sobre uma das colunas corintias de esquina; sobre as colunas seguintes, em cada face do templo, sobrepõe-se, sempre, uma cabeça de touro (cf. Vol. VII das Grandes Descobertas da Arqueologia, Planeta Agostini, Barcelona, 1988).

Haverá mais exemplos da utilização de um friso angular, assim lhe chamamos nós, com estas características de simetria; do tipo de edifício, público ou religioso, a que pertenceria, ou pertenceriam, algumas das cabeças de touro da cidade, nada sabemos, nem conhecemos a sua localização exacta, embora o espólio, amplamente reutilizado ao longo dos séculos, na área mais elevada aponte para os grandes edifícios do fórum, naturalmente situado entre o Convento da Conceição e o extremo contrário da Praça da República, junto à Igreja da Misericórdia.

Porém, no seio de tantas incertezas, uma observação nos parece correcta: pelo menos uma das cabeças de touro da cidade romana era perpendicular a uma outra do mesmo bloco constituindo um friso angular, raro no nosso País.






Cabeça de touro romana do Museu Regional de Beja. Tentativa de reconstituição de um friso de angulo com duas cabeças de touro. Altura 70 cm; largura 80 cm. Foto e desenho do autor

"Iconografia Pacense" in Diário do Alentejo 17 de Abril 1998

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

UMA CABEÇA DE JÚPITER?







A cabeça romana de mármore que hoje divulgamos foi encontrada, em recolha de superfície, há cerca de vinte e cinco anos, numa estação arqueológica da freguesia de Baleizão, conhecida pelo nome de Lamarim. Adquirimo-la, então, antes que desaparecesse da cidade levada por algum estrangeiro ou curioso. A sua história ocasionou-lhe um percurso atribulado. Com efeito, um arqueólogo nosso conhecido - ao qual prestámos colaboração no início da prospecção arqueológica das ruínas romanas da Rua do Sembrano – nessa altura técnico superior dos Serviços de Arqueologia da Zona Sul e, mais tarde, professor na Universidade de Évora, ao saber da existência da peça pediu-no-la para a estudar e publicar, resultando dessa cedência o seu desaparecimento e, ao que parece, nunca chegou a ser publicada (se o foi, se alguém sabe de mais alguma coisa a seu respeito, agradecemos que nos diga, para corrigir este artigo).

Passaram-se quase vinte anos e, quando frequentámos, em 2003, o 4º semestre do curso de História da Universidade de Évora, integrámos uma das fotografias que possuíamos da referida cabeça num dos trabalhos práticos da cadeira de Métodos e Técnicas de Arqueologia, leccionada pelo Dr. Panagiotis Sarantopoulos que, surpreendido, nos informou que o referido exemplar estava guardado no laboratório de arqueologia. Abreviando: embora, aparentemente, nada obstasse a devolução da peça, a situação não se alterava, até que na sexta-feira passada teve, como se costuma dizer, quando tudo corre bem, um final feliz. Já a temos de novo… ao fim de vinte e cinco anos, e, agora, já todos os nossos leitores e investigadores a podem ver e estudar, neste caso, preferencialmente, melhor do que nós.

A cabeça de mármore branco, provavelmente de Estremoz, pesa 1,5 Kg e tem as seguintes dimensões máximas: Altura – 16 cm; Largura – 11 cm; Espessura ou profundidade – 7,5 cm. Segundo a Carta Corográfica de Portugal, Nº43-B Moura, de 1978, as coordenadas Gauss do achado correspondem a: M- 235,6; P- 121,4; Z- 190. Reutilizando o nosso texto relativo ao local, situado a 4000m a NNO de Baleizão, esclarecíamos, entre outros aspectos, que a toponímia Lamarim já nos referenciava terras de barro, alagadiças, praticamente intransitáveis durante a época das chuvas. Um barranco separa essa área da encosta que lhe fica a nascente, na qual se observam diversos muros, tégulae, ímbrices, mármores decorados, muita terra sigillata, fragmentos de lucernas, etc..

Inicialmente julgámos que a cabeça representava Sileno, fazendo jus à orelha comprida, de animal, e às barbas que poderiam caracterizar uma pessoa mais velha, como atributos identificáveis da figura mitológica que acompanha Baco como seu preceptor; poderia até ser um sátiro ou um fauno, dada a capacidade que estes entes da mitologia têm de se disfarçarem, ou de outros se disfarçarem neles, para conseguirem os seus objectivos. Estávamos, portanto, a colocar o trabalho artístico na senda greco-romana de Dionísio e Baco, festas, divertimentos, copos, volúpia, etc., hipótese que não seria exagerada dada a quantidade de tampas de sepultura romanas em forma de pipa dedicadas simbolicamente ao deus Baco. Mas, não nos parece que assim seja. Observando melhor a pequena escultura, vemos como ela de facto conserva no mundo artístico romano um determinado ideal de representação da arte helénica, um rosto vigoroso e sério, fora do comum dos mortais e dos deuses menores; a metade direita do rosto permite-nos ir mais longe na análise: a orelha é de facto animalesca, pontiaguda, tal como o chifre de carneiro que a envolve sobressaindo ligeiramente, e que na primeira leitura não identificámos. O trabalho de cinzel e de trépano permitiu, cremos, a execução de uma obra escultórica muito próxima das que se produziram no início do século II, ao tempo do imperador Adriano (117-138), lembrando o apurado trabalho das madeixas de cabelo soltas, quase vivas, porém idealizadas da escultura de Antínoo (Cf. “Historia de España”, tomo II, Dir. Ramón Menéndez Pidal, MADRID: Espasa Calpe, S. A., 1938. pp. 647-689), o escravo favorito de Adriano. Muitas outras esculturas apresentam um estilo semelhante, como a de Septímio Severo, exposta no Museu Capitolino, em Roma, embora esta seja do início do século III, pois não foram poucas as vezes que ao realismo romano sucedeu o ideal grego).

Consideramos que esses pormenores são suficientes para que possamos atribuir a cabeça do Lamarim a Júpiter, o deus máximo do panteão romano, numa das suas muitas metamorfoses, neste caso, provavelmente, como Júpiter-Amon. Segundo a mitologia, Júpiter, escapou à ira de Saturno, seu pai, e foi criado, escondido na ilha de Creta, pela cabra Amalteia, sua ama. Mais tarde, senhor do Céu e da Terra, haveria de perseguir os seus irmãos sob a figura de carneiro. Sempre que queria algo problemático disfarçava-se ora de Sátiro para conquistar Antíope, ora de Touro para arrebatar Europa, ora de Cisne, de Águia, enfim, dele tudo dependia, tinha um poder infinito. Júpiter foi ganhando entre os devotos qualidades inerentes às atribuições que lhe davam no campo, nas casas, na moral. Prestavam-lhe um culto de Estado, deus supremo do Capitólio, chamavam-lhe Optimus Maximus. Os egípcios acabaram por venerá-lo como Júpiter Amon, junção do seu deus Amon com o dos romanos, e o atributo que o distinguia era um par de chifres de carneiro, simbologia do Sol. Na Lusitânia foi grande o culto a Júpiter.

Outro aspecto muito importante, para se puder avaliar a devoção, a cultura e a economia dos povos desta região da Lusitânia, prende-se com a produção local desta e de outras esculturas. Jorge Alarcão esclarece-nos (“Portugal Romano”. Lisboa: Verbo, 1983. p. 211; acerca de Júpiter pp. 134,165,168, 170 e 179) que “Das estátuas de divindades, muitas são obras lusitanas; assim, as cabeças de Endovélico encontradas no santuário de São Miguel da Mota (Alandroal), atribuíveis ao século I d. C.; as duas cabeças de Conimbriga, representativas de Vénus ou Diana; talvez ainda a estátua de Vénus, de Santiago do Cacém, da qual, infelizmente, pouco resta. Os Silenos do teatro de Lisboa serão também locais.”. O trabalho de cinzel da cabeça de Júpiter (?) que estudamos foi abandonado quando a parte superior esquerda se separou, deixando ainda visível o tratamento menos minucioso e em bruto desse lado fracturado. Há mais de vinte anos identificámos uma villa na horta de Vale do Bispo, assim como o aqueduto romano que ainda hoje a serve e que deveria, há quase dois mil anos, servir com abundância de água a oficina de canteiro que lá funcionava. Há pouco mais de quinze anos o seu proprietário, sr. José Maria, já falecido, retirou da terra várias árulas de mármore branco, anepígrafes, apresentando uma delas por finalizar as molduras da base e da cornija. Ofereceram-nas ou venderam-nas, não se sabe a quem.

Considerados estes aspectos singulares de uma peça do património cultural que afinal não se perdeu, e que está longe de estar convenientemente estudada, esperemos que pelo menos estas achegas sirvam para reavivar o debate, há muito sumido, em torno da emergência da investigação do património cultural histórico e arqueológico da nossa região.



Cf. BORRELA, Leonel – “Iconografia Pacense - Uma cabeça de Júpiter?”, in Diário do Alentejo de 6 de Abril de 2007.







domingo, 19 de setembro de 2010

O estado deplorável do património cultural do nosso país.

Por favor visitem este site. Há que parar a degradação crescente do nosso património cultural.
 http://acultura.no.sapo.pt/page7.html.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

O Cupido desaparecido da villa romana dos Pisões, em Beja

O Cupido desaparecido da villa romana dos Pisões


Cupido, filho de Vénus, a deusa da beleza e do amor, e de Mercúrio, o mensageiro alado dos deuses, é na mitologia romana o mesmo que Eros, filho de Afrodite, também deusa da beleza e do amor, e de Ares, o deus da guerra, é na mitologia grega. Representa a harmonia perfeita entre as paixões do amor e da guerra, esta subordinada àquele, antecipando em milhares de anos a frase e o conceito de “Make love, not war” dos Beatles, da sua época e da sua entusiástica influência.
Cupido, em criança, surpreendia tudo e todos com a sua feliz traquinice. Dotado de asas, tal como seu pai romano, e do bélico aparato de arcos e flechas, de seu avô grego, pôs a facilidade e rapidez de movimento ao serviço da celebração do amor entre os amantes. Escolhia normalmente os mais solitários e lançava-lhes setas directamente aos corações impregnando-os de uma paixão sem remédio, daqui as representações posteriores de uma seta atravessando o coração, divulgadas essencialmente a partir do século XVII e com maior expressividade nos postais ilustrados do século passado.
Cupido, já adulto, tornar-se-ia o mais belo dos deuses, seduzindo mesmo os homens mais duros a abraçarem os sentimentos mais nobres. Como deus, também se perdeu de amores, sendo proverbial, entre os eruditos da mitologia greco-romana, o seu inexcedível amor pela bela Psyché – retrato metafórico da alma que procura, como corpo seu, o corpo do amante, numa conjugação perfeita. Este deus do amor tem sido, de entre os deuses, um dos grandes preferidos da Arte ao longo da história do ocidente europeu. Não é de estranhar vê-lo tantas vezes associado, através das suas flechadas amorosas, ao dia de S. Valentim, protector cristão dos apaixonados.
Quase perdido durante a Idade Média, o espírito humanista, emergente a partir dos séculos XIII e XIV, em Itália, recupera para a arte e para a escrita a cultura clássica, reaparecendo o Cupido, em parte transformado num anjo atencioso, menos narcísico nos seus actos, mais confidente e próximo dos humanos. Através da mentalidade do período clássico barroco, podemos, de entre centenas de obras de arte, observá-lo numa gravura aberta por Jean Massard (1740-1822), concebida por Charles Eisen (1720-1778), para as Cartas Portuguesas interpretadas pelo poeta Claude-Joseph Dorat (1734-1780)[1]. O pormenor da gravura, sobre a célebre janela de Mértola, cativa-nos pela flagrante proximidade entre Cupido e Mariana – se houve seta não sabemos, mas parece ter havido um olhar intenso e sintomático (ao contrário do que proíbe a mitologia, pois um deus não se olhava), além de uma cúmplice troca de palavras.

Expostos, ainda que parcialmente, a figura e os atributos de Cupido, interessa, agora, regressarmos à realidade bejense. Faz tempo, já com algum significado, vai para cerca de dez anos, que desapareceu do Posto de Turismo, então situado na Rua Capitão João Francisco de Sousa, uma bela escultura romana, proveniente da estação arqueológica da Villa Romana de Pisões. A escultura de Cupido deitado (veja-se a fotografia que tomámos aquando da sua exposição, há pouco mais de vinte anos, numa feira de Agosto, em Beja), cinzelada em alto-relevo, a partir de um pequeno bloco de mármore branco de Vila Viçosa ou Estremoz, com perto de 50cm de comprimento, desapareceu durante umas obras de reabilitação do local referido e nunca mais se soube nada dela. Esta reprodução fotográfica tem o objectivo de a tornar conhecida do maior número de pessoas, pois pode haver alguém que a tenha visto noutro local e denuncie a sua posse ilegal. É o que se pode fazer, por agora, sem esquecermos que a Internet também pode e deve ser utilizada na sua busca.
Ignoramos qualquer trabalho de investigação artístico, histórico, ou de outra natureza, sobre este Cupido que, apesar de fragmentado, em três ou quatro partes, permitia, contudo, como se documenta, a leitura fiel da totalidade da obra e dos seus adereços identificativos: ainda criança, cumpridos os calorosos cuidados de mais uma jornada amorosa, descansa e adormece, por fim, totalmente nu, Cupido, protegendo entre os seus braços a aljava com as setas; está sereno, com o corpo ligeiramente reclinado sobre o seu lado esquerdo; um lagarto acompanha-o no repouso.
O elemento mais enigmático, cuja presença não é fácil explicar, é o lagarto, parado, que, tal como Cupido, parece adormecido ou, talvez, expectante pelo acordar do pequeno deus. Na religião cristã o lagarto está associado à vigília protectora do Bem – normalmente repele as serpentes, símbolos do Mal. Mas, no período romano, este lagarto parece representar, julgamos, todos aqueles que não se movem, que estão em estado letárgico no amor, e que esperam pelo acordar de quem os pode socorrer – a não ser que ali, pela Villa de Gaio Atilio Gordo, a deusa Ceres, criticada pelo riso de uma criança, tal como a ironizara Estélio, a quem transformou em lagarto, tivesse pedido um voto de confiança – uma criança tão mansa quanto um lagarto - ao proprietário pelos alimentos que ela exageradamente consumia.
A Villa romana de Pisoes, cujos vestígios já se conheciam, bem antes de se iniciar a sua prospecção, há pouco mais de 40 anos, sob a responsabilidade do arqueólogo bejense, Dr. Fernando Nunes Ribeiro (falecido em Maio de 2009), até princípios de 1974, é datável dos séculos I a IV, sendo de admitir uma breve ocupação visigoda. Cremos que de 1974, ou mais precisamente, de 1976 até 1979 houve uma equipa na direcção da prospecção, constituída por Fernando Nunes, José Luís Soares, Rui Parreira, Monge Soares e Mário L. Sardica. Ainda foi objecto de prospecções posteriores, mas sem a continuidade e o interesse que antes tiveram. Justino M. de Almeida e Fernando B. Ferreira, publicam, em 1969, os primeiros resultados das prospecções; Fernando Nunes publica, ainda em 1972, um estudo, ainda o mais completo, sobre a Villa dos Pisões; José Luís Soares (também falecido em 2009) apresenta, em 1973, uma comunicação sobre um prato de terra sigillata com a sigla Mandatti; João Mário L. Sardica faz, em 1975, uma abordagem complementar às partes urbana, rústica e fructuária; enquanto Maria Luísa V. Costa dá a sua contribuição, em 1986, para o estudo da gramática decorativa dos mosaicos e da sua cronologia; a barragem de Pisões é também alvo de um estudo, em 1986, de António Carvalho Quintela e outros. Actualmente, a recepção turística, possui um pequeno centro de interpretação da casa senhorial romana, composta por mais de quarenta divisões… e não está tudo à vista.
Infelizmente, uma das melhores e mais ricas villae romanas do país, encontra-se, apesar de precariamente visitável, num progressivo estado de abandono. É urgente a organização de um museu de sítio que permita devolver condignamente às ruínas o seu riquíssimo espólio, antes que se perca e disperse ainda mais. É uma tristeza ver o descalabro em que se encontra o estado do valiosíssimo património arqueológico da região.
[1] Lettres d`une chanoinesse de Lsibonne[…]. A la Haye et […]Paris: Lambert, Jorry et Delalain, M.DCC.LXX.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A funcionalidade medieval da torre de menagem de Beja

Um acesso plausível à Torre de Menagem do castelo de Beja

Em Beja, já na adolescência, pensávamos na organização de um livro ilustrado, baseado nos pormenores que paulatinamente íamos descobrindo na cidade. O primeiro contacto respeitaria a arquitectura e a sua múltipla funcionalidade no decorrer dos diferentes períodos históricos; o segundo, a evolução da sociedade pacense. Julgámos que tal concepção era um esboço de realização rápida, mas não foi. O futuro próximo que almejávamos revelou-se, afinal, um constante adiamento. Assim, durante todos estes anos, como artista plástico, a maioria das exposições de arte que realizámos, foram e ainda são condicionadas, por vontade própria, ao estudo e divulgação do património cultural de Beja e, consequentemente, à formação de um espólio documental misto que, ditosamente, já está mais perto de vir a ser utilizado como uma base de dados informatizada. A preocupação da adolescência converteu-se numa responsabilidade pessoal de defesa intransigente (não contumaz… porque se fosse!) do património cultural de Beja, para a qual, de facto, nunca lográmos o devido apoio oficial[1]. Abrir as portas a uma qualquer exposição é tarefa fácil, o mais difícil é patrociná-la e, em Beja, patrocina-se com frequência, em detrimento dos valores da terra, a idiossincrasia, não diremos de cada um (pelo respeito que nos merecem certas idiossincrasias), mas a de quem decide, em particular.
Passaram quase quarenta anos e aqui estamos nós a braços com uma redacção que constantemente rejeitamos, talvez por já estar cansada de tantas revisões provisórias. Até parece que nos falta firmeza, embora sintamos profundamente o traquejo para avançar. Enfim, apartemo-nos das quase lamúrias e de algumas razões, e passemos ao que melhor caracteriza a Iconografia Pacense: a divulgação de aspectos insuspeitos do nosso património cultural.
Quando, em 1995, a Junta de Freguesia de Portel, patrocinou a publicação de um livrinho ilustrado de nossa autoria, intitulado “Subsídios para a história do castelo de Portel”, há muito que havíamos comparado o sistema de protecção do acesso à sua torre de menagem ao da torre de menagem de Beja. Com efeito, no interior da praça de armas do castelo de Portel, tinha havido até meados do século passado, conforme podemos observar na fotografia do arquivo da antiga Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN), datada de 1938, uma torre cilíndrica, de estilo mudéjar, protectora de uma escadaria de caracol que permitia o acesso privado, do interior da alcaiadaria, à torre de menagem. Essa torre de tijolo, fechada superiormente por um coruchéu cónico, era rematada por merlões chanfrados, tais como os da ermida de Santo André e da galilé da Igreja de Santa Maria da Feira, em Beja. Teria sido construída provavelmente no final do século XV ou no início do seguinte, no mesmo local (ou próximo dele) onde antes uma escadaria móvel condicionava o referido acesso.
A comparação, pela semelhança que tentamos estabelecer, entre os acessos às duas torres de menagem, é viável se atendermos às características arquitectónicas da base do acesso de Portel, parcialmente destruído. Também, no início do actual acesso à torre de Beja (ver fotografias), anteriormente situado no interior de edificações já destruídas[2], observamos no recanto à esquerda da porta ogival (B), os primeiros degraus de uma outra escadaria que inflecte para a esquerda, semelhante à que em Portel condicionava o acesso à torre. Aliás, à semelhança do que aconteceu em Portel e noutros castelos portugueses, o sistema defensivo da entrada da Torre de Menagem de Beja praticamente desapareceu, apesar de ainda restarem vestígios dos cinco cachorros (1, 2, 3, 4 e 5) da madre de alpendre que protegia a sua entrada. O actual acesso pleno, de um e de outro lado, pelo adarve circundante da muralha da alcáçova, é uma fantasia, funcional para turista, mas proibitiva para os tempos medievais, e resulta obviamente de um erro, aquando da reconstituição, na compreensão do seu sistema defensivo. O acesso sinalizado em A poderia comunicar com o adarve, para a direita, mas nunca com a entrada da torre – no local constata-se a dificuldade que houve em disfarçar as incongruências do novo acesso.
A Torre de Menagem de Beja não era excepção quanto à restrição de acesso. Apesar do seu aspecto estético, da maravilha de engenharia e arquitectura gótico-mudéjar que apresenta, não estava destinada, como hoje, em princípio, para fins culturais, pois possuía uma função militar de batedora da região circundante e de último reduto defensivo. Salientamos que para o estudo do acesso restrito à torre contam essencialmente os vestígios existentes, a razão e a sedução. Na tentativa de reconstituição que apresentamos, a protecção da escadaria até poderia ter outro formato exterior (prismático, por exemplo), e não se elevam as paredes para que se compreenda melhor o seu posicionamento primitivo. Julgamos, portanto, que a sua realidade histórica é uma hipótese a considerar em futuros estudos do castelo de Beja.
[1] A tal ponto é verdade o que afirmamos que basta conhecer a indiferença com que foram recebidas, em Beja, duas das principais exposições documentais que realizámos. Uma, no final de 1995, no Museu Regional de Beja, onde trabalhamos desde 1977, sobre “Iconografia Pacense”; a outra, sobre “Beja Monumental”, no encerramento ao público, para obras de reabilitação, em Agosto de 1999, no e do Cine-Teatro Pax Júlia. Como excepção, no RI3, realizámos, em 1998, com o devido apoio oficial, do regimento, uma das nossas melhores mostras documentais (plantas, manuscritos e obras impressas, fotos e pintura) sobre “Beja seiscentista e os Fortins do rio Guadiana”; também a EDIA, em 2001, patrocinou com a feitura de um catálogo, a cedência do espaço e o devido acompanhamento, uma outra exposição de aguarelas sobre o rio Guadiana, além de citar, nas suas publicações sobre Alqueva, algumas das nossas crónicas publicadas nesta secção sobre o rio Guadiana.
[2] Há, até, uma observação de Abel Viana, a p.392, do 2º volume da revista Arquivo de Beja, de 1945, relativa ao “apagamento”, pela DGEMN, das estruturas da nova alcáçova que ficaria adjacente à torre de menagem, enquanto a velha alcáçova, já desactivada, funcionaria possivelmente na área da actual entrada principal do castelo. De facto, D. Dinis, faz a doação de duas torres (a Guedelha, filho do rabi maior) que estão sobre a porta da sua alcáçova velha contra a vila, em 1306.
Cf. BORRELA, Leonel - "Iconografia Pacense - Um acesso plausível à Torre de Menagem do Castelo de Beja" in Diário do Alentejo de [data a confirmar] 2009

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Porta romana inédita na Rua Capitão João Francisco de Sousa

Não vislumbramos outro título para estas portas romanas senão o da ênfase do seu ineditismo. A ciência arqueológica também se faz ou pratica, já o dissemos várias vezes, com a observação atenta daquilo que existe e está ao dispor do olhar acutilante, sem necessidade, à priori, de realizar qualquer tipo de prospecção que interfira directamente - como quando se procede a uma escavação – com o bem cultural a estudar.
Após as obras de reabilitação urbana de parte do centro histórico de Beja (ver extracto da planta)[1], levadas a cabo pela câmara municipal, tornou-se já um hábito público (o que não se faz para encurtar caminho), bastante salutar, “desembocar”, a partir da rua Capitão João Francisco de Sousa [a do antigo posto de Turismo, agora a funcionar no castelo] e do Jardim do “Bacalhau” (D), na rua do Sembrano, pelo nº72 de polícia, e vice-versa. O espaço arquitectónico, abobadado, provavelmente de seiscentos ou setecentos[2], que rompeu com a muralha e permite essa comunicação (A), integra o piso térreo do grande edifício do Clube Bejense (nº1). De fora para dentro, o percurso pedonal permite a visita, intramuros, ao núcleo museológico das ruínas romanas da rua do Sembrano (nº4) e ao Museu Regional (nº3).
De fora, sobre os restos da barbacã (A), uma recentíssima escadaria metálica que sacrificou, em parte (e que precisa ela própria de ser sacrificada, mudando ligeiramente de posição), um pequeno arco de terracota com 0,80m de espessura e 1,25m de vão (não dizemos de diâmetro porque o arco não nos parece de volta inteira), só por muito pouco não destruiu também o que resta de um dos pés direitos, o do lado esquerdo, do que parece ser mais uma das entradas romanas da muralha. O outro pé direito, felizmente, encontrava-se, desde há muito tempo, escondido pela justaposição de uma parede transversal ao paramento fortificado (ver fotografia de 1982). Trata-se, sem qualquer dúvida, de elementos arquitectónicos sobrepostos (ver desenhos e fotografias), muito bem aparelhados, em granito, com o característico almofadado das construções romanas, cujos vestígios mais antigos, por um lado, e influências, por outro, se podem observar, por exemplo, respectivamente, nas portas de Évora e de Avis, em Beja, no arco de Bobadela, em Oliveira do Hospital, e nas cantarias da rua de S. Gregório/ Travessa Funda[3] e da igreja da Misericórdia/açougue, também em Beja. O vão atinge os 2,70m, menor do que os das portas de Avis e de Évora, respectivamente, com cerca de 3,80m e 3,65m, e permite uma leitura perfeita da sua funcionalidade – faltar-lhe-ão dois ou mais “blocos” aparelhados em cada pé direito, mas há igualmente que ter em conta aqueles que se possam encontrar sob a estrutura visível adjacente à barbacã. Cada bloco afeiçoado situa-se entre 0,60m e 0,95m de comprimento por 0,45m de altura; cada pé direito apresenta três blocos sobrepostos, com as junções perfeitamente niveladas entre si, e hipoteticamente terão uma espessura (medida para o interior da muralha) de entre o,75m a 0,80m, a mesma que o arco de tijolo fragmentado denuncia, similar à das portas de Avis e de Évora. O vestígio deste arco aponta para outra funcionalidade mais restritiva do acesso à muralha, cremos que do período medieval[4], como se de uma porta falsa se tratasse – o seu vão atingia 1,25m, suficiente para uma serventia controlada e cómoda com o exterior, permitindo a passagem desafogada de um cavaleiro.
Urge, portanto, após a identificação do bem patrimonial, no seu conjunto, proceder à incontornável prospecção arqueológica do local, prospecção que, julgamos, não acarretará grandes despesas, nem ocupará muito tempo, mas que será sempre necessária para comprovar se as estruturas se encontram ou não, desde a sua origem, in situ, isto é, no seu primeiro local de aplicação e com a função que designámos, a de portas romanas da cidade.
Quem sabe se não se encontrarão aduelas ou outros elementos arquitectónicos de relevância artística no local? Há, pois, que avançar com esse estudo, para o qual nos disponibilizamos, integrando a equipa que o município julgue por bem constituir, no intuito de devolver aos bejenses mais uma peça singular da sua vetusta cidade. Beja passará a ter, caso se comprove a nossa hipótese, além das quatro portas romanas já conhecidas – de Mértola, Avis, Évora e de “Vipasca” (a da antiga rua do Buraco ou dr. Brito Camacho)[5] – uma outra, a quinta porta romana, posicionada ao que parece num pano rectilíneo da muralha, pois os elementos visíveis não apresentam os rebordos perpendiculares, exteriores, semelhantes aos que existem quando a muralha ou as torres avançam em relação ao seu plano de inserção.
Contudo, este posicionamento, entre as portas de “Vipasca” e de Mértola, dada a grande proximidade entre si, não é totalmente compreensível, a não ser que, por hipótese, e as análises morfológica e arqueológica poderão reforçá-la, esta porta romana seja anterior às restantes, daí o seu desaparecimento prematuro, ainda no período romano. Notam-se bem, ao longo da base da muralha de Beja, os blocos maiores, alguns com mais de um metro de comprimento, essencialmente de gabro, pórfiro e granito, com pedra menos volumosa nos níveis superiores, caracterizando um aparelho incerto (opus incertum) ao qual se misturaram outros materiais, como o mármore de Trigaches, tijolo, argamassa no género do formigão, etc., de proveniência e épocas diversas. É evidente que tal heterogeneidade de materiais denuncia, além da permanente operacionalidade da fortificação, os períodos cruciais da sua reconstrução.
São às dezenas a quantidade de elementos arquitectónicos e outros, fragmentados ou não, de utilização diversa, aras, cupas, etc., reutilizados na reedificação e reparação da muralha ao longo dos séculos. Deste troço (A) foi retirado, em 1992, sob informação nossa, para o núcleo visigótico do Museu Regional de Beja, um ábaco de pilastra adossada, mas ainda lá ficaram mais três impostas, uma delas com decoração losangular pouco usual (ver desenhos e nota3). Uma das cabeças de touro fragmentadas também se encontra colocada numa das torres da rua Capitão João F. de Sousa ( a antiga do Captivo), pelo que toda essa área, caso o município torne mais visíveis as estruturas da provável porta romana, sairá extremamente valorizada.
Por último gostaríamos de recordar mais uma vez, remetendo para as crónicas que escrevemos em 1996, sobre a demolição, em 1919, da Igreja de S. João Baptista (no local do largo de S. João), que as “Portas Romanas de Vipasca” (nome que lhes demos), ou de Santa Catarina (como vêm designadas, mas sem indicação de romanas, no citado Plano de Salvaguarda da Cidade, pois ainda ninguém sabia que, também ali, tinha havido umas portas romanas), situadas na rua Dr. Brito Camacho (antiga do “Buraco” – por causa de um buraco feito no pano curvo da muralha; ou do “Muro Baixo” – após a queda do arco imperfeito do dito buraco), foram, como tentámos provar, sem escavação arqueológica (esta, sim, se um dia se pretendesse realizar, seria de operacionalidade problemática naquela zona), demolidas após a “reconquista” cristã. Queremos dizer, aliás, defendermo-nos, com a possibilidade de que algum deste material de demolição, nomeadamente dos elementos aparelhados das “Portas de Vipasca”, possa ter sido reutilizado no troço em estudo. Ora, esta hipótese, remeteria o funcionamento do portal, agora identificado pelos seus restos como romano, para o período medieval cristão e português, o que não lhe retiraria por certo a importância. Esperemos que se consiga fazer uma leitura correcta destes elementos arquitectónicos que são da maior importância para a história da fortificação e urbanização romanas de Pax Ivlia/Beja.

Cf. BORRELA, Leonel - "Iconografia Pacense - Porta romana inédita em Beja" in Diário do Alentejo de 27 de Outubro de 2006.

[1] O extracto da planta, readaptada por nós, provém da p.135 do Plano de Salvaguarda e Recuperação do Centro Histórico de Beja, em 1981 (bons tempos!), e respeita aos edifícios propostos para classificação como Monumento Nacional, Imóvel de Interesse Público e Imóvel de Interesse Concelhio, com a delimitação da respectiva área de protecção. Sinalizados a negro, ainda sem numeração, mas agora colocada por nós, lá estão o nº1, correspondendo ao Clube Bejense e o nº2, infelizmente demolido na voragem do Programa Polis.
[2] Espaço que poderia ser aproveitado para exposições de temporárias, não de objectos, mas de painéis devidamente elaborados sobre a história da cidade ou da freguesia onde se insere. Numa planta geral da cidade, o visitante, local ou turista, tomaria contacto com a sua posição relativamente a outros pontos de interesse patrimonial.
[3] A tal área onde se pensa que existiu, segundo investigação de Jorge Alarcão, com base na topografia do terreno e pela descrição setecentista de Félix Caetano da Silva, o teatro romano de Pax Ivlia. [De uma das cartas que o autor nos endereçou, salvo erro em 1991].
[4] Quando dizemos medieval, entendemo-lo como visigodo, islâmico ou cristão português. Os tijolos do arco não nos parecem assim tão antigos, mas quantas coisas destas, no seu aspecto funcional, não são o reflexo de outras mais antigas?
[5] Cf. BORRELA, Leonel – “A igreja de S. João Baptista” I, II e III; “Ao longo da rua do Cativo”; “Imediações da Praça de Santa Catarina” e “O último grande edifício romano de Pax Ivlia I”. In Diário do Alentejo de Nov./Dez de 1995; Agosto de 1996 e Junho de 2006.